História de Pernambuco
Pernambuco tem rica participação na História do Brasil. Sua importância histórica ocorre desde os primeiros anos de colonização, culminando com a Revolução de 1817, o maior movimento do Brasil em busca de autonomia, antes da Guerra da Independência. Foi a capitania de mais notável desenvolvimento econômico da primeira metade do século 16 e abrigou a mais importante colonização europeia, não portuguesa, no Brasil.
O território do atual Estado de Pernambuco é habitado há milhares de anos, como demonstram pesquisas arqueológicas. No século 15, o litoral pernambucano era habitado pelos índios tabajaras e caetés.
As teorias sobre a chegada de europeus em Pernambuco, antes de Cabral, em Porto Seguro, são bobas. Mais sobre os falsos descobrimentos do Brasil ►
A primeira expedição europeia a chegar em Pernambuco foi a do navegador português Gonçalo Coelho, em 1501, acompanhado de América Vespúcio, o qual relatou ter efetuado desembarques entre o 5° e o 8° de latitude sul, onde se localiza o atual litoral de Pernambuco. Segundo Duarte Leite (O Mais Antigo Mapa do Brasil, 1923), teria sido essa expedição a descobrir Fernando de Noronha, em 1502, que se tornou a primeira capitania hereditária do Brasil, em 1504.
Em 1526, Cristóvão Jacques fundou uma feitoria na região de Igarassu. Nessa época, o litoral pernambucano era também explorado por piratas franceses. Em 1531, o navio francês La Pèlerine esteve na área, após a passagem de Martim Afonso de Sousa a caminho do sul, e destruiu a feitoria. Jean Duperet, capitão do La Pèlerine, construiu uma fortaleza provisória no litoral de Pernambuco, possivelmente na Ilha de Santo Aleixo (atual município de Sirinhaém), segundo referências de Pedro Calmon (História do Brasil, 1959). Duperet carregou seu navio de pau-brasil e seguiu para a Europa. Deixou a fortaleza guarnecida com 70 homens. Em seu retorno, Pero Lopes, da expedição de Martim Afonso, derrotou os franceses que estavam em Pernambuco e o navio La Pélérine foi capturado pelos portugueses, na costa da Andaluzia. O financiador da expedição francesa, o Barão de St. Blancard, protestou no tribunal de Bayonne, na França, em 1538. O processo original foi publicado por Eugène Guénin (Ango et ses pilotes, d'après des documents inédits, 1865).
A colonização efetiva de Pernambuco ocorreu com a chegada de Duarte Coelho, donatário da Capitania que se estendia desde Igarassu, ao norte, até o rio São Francisco, ao sul. Era a Nova Lusitânia, nome dado à Capitania pelo próprio donatário.
Duarte Coelho era filho bastardo do navegador português Gonçalo Coelho. Seguiu carreira militar e acredita-se que ele esteve no Brasil em 1503, na segunda expedição exploradora. Nota: segundo Pedro de Azevedo (Os Primeiros Donatários, História da Colonização Portuguesa do Brasil, 1924), Duarte Coelho não tinha o sobrenome Pereira, como indicado por alguns autores.
Em 10 de março de 1534, Duarte Coelho recebeu, de D. João III, a carta de doação da Capitania de Pernambuco. Chegou ao Brasil, em 9 de março de 1535, com sua mulher Brites de Albuquerque, com seu cunhado Jerônimo de Albuquerque, além de outros parentes e com algumas famílias de Portugal. Estabeleceu-se inicialmente nas margens do rio Igarassu. Depois, no mesmo ano, com um melhor reconhecimento da região, Duarte Coelho fundou um povoado numa colina, mais ao sul, onde existia uma aldeia indígena chamada Marim. Em 1537, esse povoado já era a Vila de Olinda.
Por volta de 1535, formou-se também um povoado em um porto natural, perto de Olinda. Posteriormente, tornou-se a Vila do Recife.
Nos anos seguintes, Pernambuco tornou-se a mais próspera entre as capitanias do Brasil, com seus engenhos de açúcar.
Duarte Coelho morreu, em 7 de agosto de 1554. Seu filho mais velho, Duarte Coelho de Albuquerque, estudava em Lisboa e a Capitania passou, então, a ser de responsabilidade da viúva, até 1560.
O norte do atual Pernambuco e a maior parte da Paraíba estavam na Capitania de Itamaracá, doada a Pero Lopes de Sousa, em 1534, mas pouco foi feito naquela área durante o século 16.
Em 1549, chegou Thomé de Souza, na Bahia, fundou a Cidade do Salvador, que passou a ser a sede do governo geral do Brasil.
A Nova Lusitânia continuou a prosperar até o início do século 17, quando foi tomada pelos holandeses, época em que Matias de Albuquerque era o donatário.
Após uma invasão fracassada na capital do Estado do Brasil, em 1624, os holandeses fizeram nova tentativa em Pernambuco. Ocuparam boa parte do Nordeste, de 1630 a 1654. Os holandeses estabeleceram sua capital, em Recife, que a chamavam de Maritzstad (Mauriceia), em homenagem a Maurício de Nassau, que comandou o território holandês no Brasil, de 1637 a 1644.
No início do século 18, grande parte dos nobres da Capitania, morava em Olinda, enquanto Recife abrigava a maioria dos comerciantes, chamados de mascates. Devido a conflitos de demarcação de terras entre os dois municípios, moradores de Olinda invadiram Recife, em 1710, iniciando a Guerra dos Mascates. Ameaçado, o governador Castro embarcou para a Bahia. O novo governador, Felix José Machado de Mendonça, sufocou a rebelião no ano seguinte, fazendo concessões a ambos os lados.
Em 1716, a Capitania de Pernambuco foi incorporada à Coroa Portuguesa, que indenizou o herdeiro do donatário. Em 1763, a Coroa também adquiriu Itamaracá.
A partir de 1811, Pernambuco foi palco de revoltas separatistas, que culminou com a Revolução Pernambucana de 1817. Pernambuco era uma das capitanias mais ricas do Brasil e os pernambucanos não se conformavam em pagar impostos para sustentar o desenvolvimento e os privilégios no Rio de Janeiro. Em 7 de março de 1817, os revolucionários estabeleceram um governo provisório de uma república independente. Em resposta, D. João VI enviou uma frota com Lord Cochrane e Francisco de Lima e Silva, contra os rebeldes. O governo português foi restabelecido, em Recife. Alguns de seus líderes foram presos e executados.
Alguns presos foram enviados para a Bahia. Desses, alguns foram fuzilados no Campo da Pólvora. Outros permaneceram encarcerados no Forte de São Pedro. Bahia e Pernambuco tiveram forte conexão nos movimentos que resultaram na Independência do Brasil. O médico e jornalista baiano Cypriano Barata, por exemplo, um dos líderes da Conjuração Baiana (1796-1798), participou ativamente da Revolução em Pernambuco. Os revolucionários que continuaram presos no Forte de São Pedro provavelmente tiveram alguma relação com o movimento armado de oposição à Coroa portuguesa, que eclodiu em fevereiro de 1821, em Salvador.
Após a Independência do Brasil, outro conflito ocorreu, em 1824. Insatisfeitos com a nova constituição imposta por D. Pedro I, líderes pernambucanos proclamaram a Confederação do Equador, que buscava reunir as províncias de Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí. Tropas enviadas pelo Imperados reprimiram a insurreição em novembro do mesmo ano.
Em 1848, aconteceu a Revolução Praieira, em que Joaquim Nabuco pregava ideais republicanos.
Com a República, Pernambuco tornou-se um estado da Federação. Ainda era um grande produtor de açúcar.
No início do século 20, Pernambuco continuou seu ritmo desenvolvimentista. Em 1960, Recife era a terceira maior cidade do Brasil, em população, com cerca de 800 mil habitantes, mas perdeu o fôlego nas décadas seguintes.
No século 21, Pernambuco retomou seu fôlego, com industrialização, agropecuária e turismo.
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O Recife em 1819, em aquarela de Robert Pearce.
Praça da Independência, em Recife, por volta dos anos 1920. A capital pernambucana entrou no século 20 com grande vigor, até ultrapassar Salvador como terceira maior cidade do Brasil. Salvador voltou a ocupar esse lugar posteriormente.
Vista de Olinda, 1662, fragmento da tela do artista holandes Frans Post (original no Rijksmuseum, Amsterdam).
Frans Janszoon Post (1612—1680) chegou em Pernambuco, em 1637, e retornou para a Holanda, em 1644. Estava a serviço de Nassau e continuou a pintar temas do Brasil, mesmo na Europa, possivelmente com base em esboços.
Vista de Olinda. Ilustração com base em uma gravura de Rugendas de 1835.
Igreja de N.S. da Misericórdia em Olinda, fundada pelos irmãos da Santa Casa. Acredita-se que os primeiros hospitais do Brasil foram fundados por irmandades de Santa Casa da Misericórdia, nas primeiras décadas do século 16. O historiador Francisco Augusto Pereira da Costa (1851-1923), identificou um registro, que seria de um hospital em Olinda, em 1540. Entretanto, a primeira Santa Casa da Misericórdia do Brasil foi fundada em Porto Seguro, de acordo com Dom João V, que citou em carta de 1718, que a Santa Casa de Porto Seguro "fora a primeira e mais antiga que houve, e há naquelle Brazil".
Esta é a antiga Rua da Cruz, em Recife, em ilustração publicada em 1869, no Harper's New Monthly Magazine, de Nova York, volume XXXIX. Trata-se de um artigo intitulado A Health Trip to Brazil. O autor observou que a cidade tinha um aspecto holandês, com sobrados que se assemelhavam aos de Nuremberg ou Utrecht.
Faculdade de Direito de Recife, fundada em 1827, em Olinda, e transferida para Recife, em 1854. Foi uma das duas primeiras do Brasil. Aqui estudaram Castro Alves, Joaquim Nabuco, Eusébio de Queirós e muitos outros personagens ilustres.
Brasão de Duarte Coelho, por carta de brasão de armas concedida por D. João III, em 6 de julho de 1545.
História de Pernambuco
Por Jonildo Bacelar
Rahael Tuck & Sons
Márcio Silva